sexta-feira, 5 de novembro de 2010

- ?!



A despeito de todas as coisas que se pense, aqui, tudo ocorre ao contrário: somos como pontos de interrogação e exclamação, daqueles usados juntos, no final da pergunta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Distraio palavras

O que você mostra, não é o que enxergo.
Leio nas entrelinhas, um sentido inverso.
Pra mim, pingo é frase e até texto, depende do contexto!
Ademais, existem fatos ocultos: buscas, risos, ruas, idos.
E, justamente por isso, fogem ao olhar (dis)traído.
Mais, não vou lhe contar. Não que seja um segredo...
porém deixo que sua sapiência, voluntariamente,
se transforme, quiçá um dia em ciência.
Um, dois, três... faça-se luz outra vez!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Suspiram pela alcova

"Tudo dantes no quartel de Abrantes"... suspiram pela alcova, sussurram em verso e trova, ciclanas e fulanos, a espreitar o final da estória.
Detesto gente com mentalidade provinciana! Essa moralidade repressora, de quem, se pudesse, faria mais e pior, escondido. A vida não lhe sorriu, né? Falta de oportunidade ou coragem é fogo! Restou então, tomar conta da vida alheia, como forma de tornar menos árida essa sua "existenciazinha" de merda.
Tentar fazer parte de enredos emprestados, amores imaginados, diálogos apaixonados decorados dos livros que jamais foram escritos por ou para você. Nunca foi musa de ninguém. Mal consegue que o sapo consorte pegue no tranco e vive na sobra do que um dia você pensou chamar de relacionamento.
Enfeita a lasanha com passas (nem combina), reescreve as memórias tentando dar sentido ao sentido que se perdeu.
Essa necessidade de se apegar ao que já acabou, é ridícula. É como tentar segurar fumaça entre as mãos. A inveja mata...lentamente. E você percebe que beijos febris não serão pedidos e sequer retribuídos. Não existe essa coisa de inveja branca, inveja boa. Inveja é sentimento sórdido, sem enfeites.
Quando a novela da vida dos outros passa a fazer parte integral da sua vida, querida: joga a toalha porque o jogo terminou faz tempo. O seu time perdeu e só Margarida (ou seja, você!) não viu.
Na boa, dá uma revisada aí, antes que morra de inanição. Falta de amor mata a alegria da vida e quem está feliz não para pra olhar a vida alheia. A felicidade é extremamente egoísta.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Hoje é dia de Cosme e Damião!

Cosme e Damião
É costume no Rio de Janeiro dar saquinhos de doces para a criançada em homenagem a eles.

Saudades do Rio... saudades extremas...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Canibalismo

Quero o que não provei, o que está se delineando, ainda em rascunho, o que pode vir a ser. O flerte com o inesperado. Me sinto um Don Juan de saias.
Talvez seja genético mas esse namoro com essa porção desenterrada, esse lado canibal que espreita o momento e tece ardis que quer devorar o singelo carneirinho, já passou de sonho. É fome que urge e espera a hora do bote.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Inspiração

Aberta
Depois de um balanço,
em que a maior descoberta:
sou eu.

Céu da Boca

Palavras loucas dançam no céu da boca,
e como espadas, dilaceram em pedaços,
aqueles que estão desavisados.
Receba essa prenda, certamente, uma maldição.
Dou-lhe, do mais profundo do meu coração.
Foi-se, finalmente o azar, morar em outro lugar.
A roda eterna a fiar, os destinos que cruzam o nosso caminhar.
Hoje, não me acreditará mas o tempo, confirmará.
Logo, mostrará sua face, o que não agradará.
Meu carma passado e talvez, seu espelho adiante, quem saberá?
Espere então, ela retornar a girar.
E quando, a hora chegar, aquiete-se, não faça alarde:
aprenda da lição a sua parte.
Que para adiante e bem longe, novamente o remeterá
e por fim a sorte, desembaraçada sorrirá.

Ana Paula R.

"O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima"
- O Caibalion -

Angústia com Cafeína

A sede infinita e nunca saciada, das perguntas sem respostas é a mesma dor, daqueles que não encontram o seu lugar.

- Paz, quero paz! E isso existe? Ela se pergunta. E será que em face a ela, a tão sonhada paz, não irei me desesperar querendo sinais de vida terrestre, extraterrestre ou respostas essenciais nos círculos desenhados em campos de trigo? Porque se tudo está bem, então, quem não está, sou eu _ conclui.
- Louca! Quem lhe disse que tudo sairia bem? Que a vida era só felicidade? Que bastava apenas viver?
Até respirar, as vezes, parecia impossível. O ar seco, entalava no peito oprimido e daí, aquela sensação de pânico. paralisava.
A vista escurecia, ficava turva. O ar entrava em golfadas.
- Mais um passo, mais um passo! O cérebro repetia em vão. O corpo mole e trêmulo feito gelatina.
- Respire! Calma! Só mais um passo, até a poltrona. A cabeça latejando, o corpo latejando.
- Mais um passo! Adrenalina, palpitação, a boca seca. Um passo, a poltrona...calma, calma...respire (silêncio).
- Não quero morrer só, Deus me livre! E repetia em voz baixa, incessante... até passar.
Depois do ataque, permanecia um par de horas atada a poltrona. O ponto cego, mais próximo da paz imaginada. Como fera acuada lambia suas feridas.
Aos poucos, tocava o chão com os pés para certificar-se da firmeza do mesmo. O frio contato com a cerâmica ajudava a coloca-la em contato com a realidade.
Ainda anestesiada, se dirige a cozinha e coloca um pouco de água para ferver. O cheiro do pó de café, o som da água fervente, mais um pouco de realidade. A chaleira apita. O barulho da rua. O gosto doce e amargo. A cafeína... santa cafeína!
- Se eu morresse aqui, só, quantos dias demorariam para me achar? Constantemente, tinha pensamentos mórbidos.
Era solitária, de uma solidão extrema, difícil de suportar. Tudo tão errado... Não casara, não tinha filhos, nem gostos. Sentia-se sem passado e sem futuro. Aprisionada pela vida, suspensa como poeira numa fresta de luz.
- A felicidade é para poucos, dizia baixinho, entre goles de café.

O Sonho da Moça

A moça, nem tão moça assim, cansada da vida se pôs a sonhar.
E no sonho tão bem sonhado, engendrado entre lençóis estampados, tecia um mundo encantado.
Sonhou que era feliz e que morava num farol em uma ilha do outro lado do mundo.
Lá de cima, via a cidade colorida entre as montanhas verdejantes e do lado oposto, o mar que circundava tudo.
Era tanto mar que a vista se perdia em meio aos variados tons azuis.
A cada dia, acrescentava mais um pedacinho de sonho.
Sonhou com a cidade, com suas casinhas coloridas e ruas de pedras que formavam desenhos pra quem tivesse olhos que quisessem ver.
Aos poucos, foi colocando os habitantes. O velho vendedor de peixes, a mulher gorda que de tão gorda, mal andava e era dona da venda, as crianças que corriam descalças, a menina que pulava corda e o tocador de cítara. Moço bonito com olhos cor de mar, olhos de se perder e de se encontrar. Que sobre o terraço, tocava em notas sonhadas, uma música suave que a cada um fazia suspirar.
Quando seus olhos encontraram os dele, se beijaram sem se beijar. Ela sonhou o beijo, ele correspondeu ao sonho. E ficaram ali, suspensos, durante muito, muito tempo. Um sonho dentro de outro que se entrelaçava num infinito sonhar.
A moça feliz, continuou sonhando para nunca mais querer despertar.

Cannabis

 Dizem que ando fumando um... que ando viajando nas asas da borboleta amarela... só, se no maço de Free, andam colocando Cannabis por engano... Que sé yo ?
Se ando embriagada de um mundo ora, filosófico; ora, ficcional. Se em meio ao perfume que inebria, meto-me em dobras de Sudário, procurando desvendar sequências de Fibonacci. Se choro com as minhas putas tristes ou se caio ao chão como um dos pássaros feridos e me sinto condenada a cem anos de solidão é porque o mundo imaginativo me atrai e descansa, frente a uma realidade seca e doída, repleta de pessoas alienadas em constante alegria.
Nada de mal em ser alegre. Mas alegria constante é um entorpecimento dos sentidos! Excesso de positividade, embrulha-me o estômago, tal qual o excesso de religiosidade.
E além, tem coisa mais chata que um ser humano eternamente feliz? Máquina de sorrisos, hipócrita da alegria? Nunca sentiu raiva, nem um tantinho de inveja! Rancor e ódio? Nem pensar!
Ser humano, demasiado humano, não é pra qualquer mortal! Há um peso e uma responsabilidade, insuportáveis de carregar.
Então, sorrimos. Fazemos ginástica em busca da serotonina perdida e compramos a toque de caixa, a nossa felicidade instantânea.
Empurramos o confronto, face à face, diante do espelho. Disfarçamos com o novo batom, nos iludimos com o creme anti-idade. - Me dê aí, mais um pouco de ilusão, por favor?
Na Rota 66 da crua vida, se eu fizer um balanço, me suicido tal qual me conheço. E será que acordo outra?
É capaz, que acordemos de uma "realidade" inventada e somente assim, nos tornemos atuantes, nessa realidade gritante que aí está, abarrotada de meninos do tráfico e elite da tropa.
São tantos "eu te amo" jogados a esmo nos Orkuts da vida.
- Me ama, mesmo? Me ama quanto?
Banalizaram o amor, banalizamos a vida. Somos todos, tão bonitinhos e robotizados!
Eu te mando frasezinhas copiadas e você me manda outras, numa competição de simpatias e afinidades, sem fim. E dá-lhe mil PPS nas nossas caixas de entrada! Você me conhece, eu te conheço. Somos iguais? Somos, sim. Absolutamente, superficiais e cegos em nossa fogueira das vaidades. Todos, procurando a fórmula mágica de como se dar bem mesmo sendo um bosta. Vambora, então, deitar no divã e contar as nossas melhores mentiras.
- Desculpe, se foi um excesso pra você. É que às vezes, um pouco de verdade, dói.

Borboleta Amarela

Essa dor que me corrói
dentro
n'alma
não se esvai
Transporto-me
nas asas da borboleta amarela
De repente
sou ela
eterna
luz
liberta

Quero partir
não há lugar
nem braços a me abraçar
Desejo, o desejo de desejar

Por um fio imaginário
sou como um pêndulo
balouçante
de lá pra cá
Infinitamente
presa num conto
não contado

E nas asas
perpétuas
volantes
amarelas
sigo, com o tempo
Vôo, sem chegar

O Bailar da Louca

Enlouqueço
Paulatinamente, despeço-me, tal qual me conheço
A minha loucura opera mudanças
não sou o que fui
nem o que poderia ser
Sou um átimo entre o antes
e o próximo instante

Transmuto-me em dores
renasço em partos
natimorta em desejos, escassos
Moldo-me ao réves
acerto-me no descompasso

Há muito mais de mim na loucura
e quase nada na lucidez
Transpus a tênue linha
entre uma coisa e outra
Reinventei
sobrevivi
Supus a vida ou algo semelhante
para manter acesa a fagulha
do que um dia foi brasa ardente

Mantenho-me pelos meus
Resisto ao holocausto de mim
fingindo ser ainda na opacidade do que sou
inteira

Obstinadamente, permaneço
Bailo, obstinadamente
Arquejo
Tomo o passo
tomo tento
tomo ar
respiro

Não Digo Sim

Anseio o que não tive
Anseio o que não vivi
Anseio a felicidade remota
utópica
A vida farta
falsa
dos que não sentem
dos que mentem

A vida
festiva
colorida
robotizada
das massas moldadas
que meneiam cabeças no bailar do sim

Eu não sou moldável
Eu não digo sim
Eu não sou simples
e tão pouco, feliz

Lágrima

Me desfaço em lágrimas
evaporo
condenso
chovo
Infiltro
lavo
nutro
as terras áridas
do seu coração, em vão

Depois
cansada
deito-me sobre os lençóis
retilineamente arrumados
Leito escavado
na mais profunda rocha
mineral
abissal

Sonho
todos os sonhos encantados

Refeita em esperanças
Retorno ao ciclo
transformada
cristalina
pura
abençoada
água

Para Meu Filho

Meu filho, escuta o que tua mãe fala
Quando me abraças, volto no tempo e o tempo não passa
Teus olhinhos inocentes, cor de jabuticaba
Teu sorriso branquinho, as covinhas desenhadas
Teu hálito doce, aragem mentolada

Rolamos no chão, faço cosquinhas, damos risadas
Lembras, a musiquinha que cantavas?

Para ouvir o vôo do mosquitinho
E as batidas do seu coraçãozinho
Pego a chavinha
Tranco a boquinha
Zum zum zum...

Menino, escuta!
Quando não, te viro e dou umas boas chineladas
Ouça, meu coração: pé de galinha não mata pinto, não!

Escuta, filhinho, não erres os meus erros
Senão, aprendes em casa, a vida mais que madrasta,
depressa, arranca-te as asas

Receita de Amor Caseiro

Segure meu coração em suas mãos
Aqueça-o cuidadosamente
Reacenda meus sentidos,
para que eu nunca esqueça,
o quanto amei

Preto no Branco

Você é tão rasa
Seus livros são os da moda
seus conceitos enfadonhos
sua casa, enfeitada
sua vida, morna
Argh, a imbecilidade lhe faz feliz!
Benza a Deus, enxergar com olhos coloridos a vida em preto e branco
Que Ele lhe conserve cega, surda e muda, as mãos estendidas
e aos gemidos dos que têm fome e sede, de pão e justiça.
Permanece então, hipócrita e beneplácita, com seu sorriso de Monalisa,
para que não se arranhe o lustre e nem se trinquem os cristais venezianos

Inoportuna

Que eu possa estampar toda a dor em teus olhos para que sintas.
Que eu possa estar presente no resto dos teus dias como ferida viva.
Se sou a colheita de teus atos? Que eu seja, então.

Que eu seja a semente que frutificou longe das tuas vistas.
Que eu seja a convidada oculta a tua mesa.
Se sou a inopurtuna? Que eu seja, então.

Que eu povoe seus sonhos.
Que eu seja a primeira a lembrares quando abras os olhos.
Se sou a praga que te assola? Que eu seja, então.

Não deixarei que me esqueças, nos dias que te restam.
Devo a ti essa lembrança, devo a mim.
Se num breve momento, fechares os olhos e minha imagem surgir por trás da tua retina é porque assim, desejo que seja.
A cruz que carregas é a que eu trouxe sempre, junto a mim.
Se sou a resposta aos teus medos? Que eu seja, então.
Se sou a pergunta? Melhor ainda.
Se sou o medo? Somente, tu o sabes.

Que eu seja a solidão que te abraça para que entendas.

- E me sintas... me sintas...

Chuva

Chove lá fora
e aqui dentro.
Ai, as goteiras d'alma!

Ensaios de Gaveta

Eram dois mas poderiam ser apenas um. Dois perdidos numa noite escura.
Ela não tinha mais ninguém além de si. Partilhava consigo suas angústias. Mastigava-as e as engolia. Mentora de si, absolvia-se.
Ele, logo perderia os que lhes eram caros. vivia a espera do inevitável.
Logo, que se encontraram perceberam a simbiose que o destino lhes propunha. Se identificaram imediatamente. Somente os que eram como eles poderiam perceber a tênue marca deflagrada no canto do olhar. Um sinal de súplica, de profunda solidão.
Ela, seria a água que mataria sua sede. Ele, o abraço que resgata.
Juntaram- se ali, naquele instante. Como testemunhas desta memorável união, entre a dor e o desespero, apenas os bêbados que perambulavam pela madrugada.
Dali em diante, seriam carne da mesma carne e sangue do mesmo sangue. Não se separariam mais.
Na mala, ela levou as poucas coisas que possuía. Algumas cartas amareladas pelo tempo, alguns livros, umas fotografias. No dedo, uma única recordação, o anel que a mãe lhe dera. E no coração a esperança emprestada pelo amor.
Sairam naquela mesma noite. Partiram rápido, antes do encanto se quebrar.

Mãos Espalmadas

Quando olho para mim gosto do que vejo.
Transcende a beleza. É ver a vida em cada ruga e ama-las pelo que me lembram.
Me sinto cumpridora do meu destino e estou serena.
Meu coração é um lago límpido e imenso de aguas mornas pronto a acariciar os que nele mergulham.
Estou em harmonia comigo mesma e com os que amo.
Mesmo no revés da vida, me sinto consciente que sou provedora e receptora do amor daqueles que me cercam.
Não posso reclamar, a vida me tem sido plena de emoções.
Estou viva e unida a uma Conciência Divina,
sou parte de um todo e sou única.
Sou grata por tudo e principalmente pela oportunidade de seguir aprendendo.
Se caio, eu me levanto.
Compreendo que sempre haverão mãos dispostas a me erguer, se eu estender as minhas.

Folha em Branco

Minha cabeça anda pesada, quero desistir de ser o que não sou...de verdade, não está em mim.
Sempre fui idealista, queria a verdade sobre todas as coisas. E a verdade como uma criança que brinca de esconde-esconde, fugia de mim.
Eu perguntava: - Está quente? Está frio? E não havia resposta.

Não sou isso! Abdico de todos os meus direitos em favor de meus sonhos. Quero paz interior! A minha visão de paz...
Andei em guerra, medi forças, ultrapassei meus limites, vivi de angústias, me perdi de mim mesma.
Agora, resta o oco que me devora, das intensões desgastadas pela falta de substância.
Eu só queria ser notada, apenas isso. Que me percebessem. Mas andavam tão cabisbaixos conversando com seus umbigos... ou era eu que andava a me perder no meu?
Tento me transformar numa folha em branco. Pronta a aceitar a primeira letra e depois outra e outra. Reescrever o enredo do ponto onde parei.
Fique com o que é seu. Eu nem tinha certeza se queria tanto assim. Fique, se te faz bem. A mim, não importa.
Estou tão cansada.

Primeira Vez

Sou uma mulher?

Quando eu transei pela primeira vez e naquela época chamava-se fazer amor, me olhei no espelho e perguntei:
- Sou uma mulher?
A primeira vista não me parecia assim tão mulher.
Aquele corpinho magro, aquela menina que olhava o espelho tão curiosa sobre as suas mudanças - aonde elas haviam se escondido?
Ouvira tanto dizer que quando uma mulher se deitava com um homem, dava para ver na cara.
E o medo de sair na rua? Da mãe? Deveria andar com as pernas juntas? Será que notariam?
Tudo tinha sido tão perfeito. Melhor que o tão longamente desenhado encontro que fora tantas vezes sonhado em meus sonhos matinais. Sonhos de menina-moça. Eramos tão jovens. Ele havia sido tão delicado, todo minuto perguntava se doía. Eu balançava a cabeça, dizendo que não. Mesmo que doesse eu não diria. Amava-o tão profundamente, que nenhuma dor poderia ser comparada a ausência dele.
Foi mágico...foi entre nuvens e sonhos.
E depois, apenas a persistente pergunta: - Sou uma mulher?
Eu sonhava um dia, casar-me com ele. Foram cinco anos de namoro e um dia, acordei e não estava mais apaixonada. E no entanto, hoje pensando, eu não mudaria uma linha sequer.
As minhas paixões sempre foram assim, avassaladoras num segundo e noutro já não existiam mais. E os finais, sempre se davam pela manhã. Eu acordava e queria um novo descortinar, uma nova estória, uma outra emoção. Era a chave que abria as portas das minhas mudanças.

Espelho

Lucimar, acordou. Levantou-se e olhou no espelho.
A desesperança tomou conta de seu coração. Percebera ali, naquele exato instante, que se não tomasse providências, sua vida se arrastaria morna até que a morte a libertasse.
Lavou o rosto, trancou a porta, sentou-se no chão do banheiro e começou a chorar. Derramava em lágrimas todas as impossibilidades sentidas, as dores guardadas e os medos que a imobilizavam.
Lavou novamente o rosto. Precisava respirar e decidir o caminho a seguir. Se queria ou não as mudanças.
A dor cálida e costumeira havia se tornado um lugar conhecido, quase um porto seguro. Seria talvez, um passo demasiado para quem pretendera tão pouco. Duvidou de suas forças. Despedir-se da dor passada e aceitar as novas e desconhecidas que viriam. Mudar hábitos, tecer esperanças...
Não havia mais tempo, tinha que decidir naquele curto espaço o que já vinha sendo, paulatinamente, desenhado em seus desejos, em sua alma.
Decidiu-se por um vestido vermelho.
- Sim, vermelho combina com a necessidade da hora, com a mudança sentida e ainda não concluída.
Penteou os cabelos, calçou as sandálias e saiu. O cheiro daquela manhã era diferente, as pessoas pareciam diferentes. Ela já não era mais a mesma, descobrira a ousadia do viver, gritava sua liberdade por todos os poros, as correntes pesadas ficaram caídas na memória.
O vento passava por entre seus cabelos e um sorriso de vitória, desenhou-se em seus lábios.

Reino Aluap

Num reino encantado e distante chamado Aluap, nasceu uma linda princesa chamada Bianca.
Seus cabelos castanhos claros rajados de sol, sua pele branca quase rosada, seus olhos castanhos e intensos. As vezes indecifráveis, noutras translúcidos. Sempre verdadeiros. Quanto amor se pode ver neles.
Nasceu num castelo cor de rosa que aparece por entre as nuvens em dias de muito sol. Parece uma miragem ou um sonho que se sonha acordado e que num instante desaparece. Nesta terra encantada onde vive a princesa Bianca, o tempo pára para ver toda a beleza que existe. As flores são mais coloridas. Borboletas e libélulas brincam sobre as águas cristalinas que descem da cachoeira. Se ouve uma leve música no ar e lá, todos são felizes.
Esse reino encantado prepara uma grande festa. Não uma festa comum. Uma festa mágica, como tudo neste reino. É um grande dia, Bianca fará 15 anos. E todos desejam ansiosos o grande momento. Presentes incomuns esperam por ser abertos, caixas de alegrias, pacotes de desejos, sonhos embrulhados em finos papéis de presente com grandes laçarotes de todas as cores.
Seus pais desenham seu futuro, com atenção e esmero. São como todos os pais de mundos encantados ou não. Desejam o melhor, se esforçam pelo melhor e querem que sua vida seja sempre mágica e brilhante. Que em cada descoberta haja luz e emoção. Que seu caminhar seja reto e que se houver pedras, que elas sejam transpostas com naturalidade. Porque as vezes, as pedras também nos dão respostas.
Mas sobretudo, eles confiam na força que existe dentro da princesa Bianca. Se por fora é tão bela; por dentro é muito mais. E essa princesa, um dia será descoberta por um príncipe quase encantado, que saberá olhar dentro desses olhos... Ah! Mas essa é uma outra estória que tem muito, muito tempo para ser contada.

Sétima

Quando nasci, meu pai perguntou:
- Homem ou mulher?
- Mulher.
- Já tenho seis. Pra que mais?
E não me quis.
Sou mulher de dentro pra fora
e de fora pra dentro.
Gosto de ser mulher, fêmea, feminina.
Rosa que sangra, canta, encanta
e seus males espanta.
Gestei, dei a luz, amamentei.
Nasci no ato de parir,
me reconheci mulher e me amei.

Quem sou eu

Minha foto
carioca, taróloga, historiadora em formação pelo Instituto Federal de Goiás, mãe, crocheteira de fios e palavras, ensaísta e poeta de gaveta.