quinta-feira, 6 de maio de 2010

Espelho

Lucimar, acordou. Levantou-se e olhou no espelho.
A desesperança tomou conta de seu coração. Percebera ali, naquele exato instante, que se não tomasse providências, sua vida se arrastaria morna até que a morte a libertasse.
Lavou o rosto, trancou a porta, sentou-se no chão do banheiro e começou a chorar. Derramava em lágrimas todas as impossibilidades sentidas, as dores guardadas e os medos que a imobilizavam.
Lavou novamente o rosto. Precisava respirar e decidir o caminho a seguir. Se queria ou não as mudanças.
A dor cálida e costumeira havia se tornado um lugar conhecido, quase um porto seguro. Seria talvez, um passo demasiado para quem pretendera tão pouco. Duvidou de suas forças. Despedir-se da dor passada e aceitar as novas e desconhecidas que viriam. Mudar hábitos, tecer esperanças...
Não havia mais tempo, tinha que decidir naquele curto espaço o que já vinha sendo, paulatinamente, desenhado em seus desejos, em sua alma.
Decidiu-se por um vestido vermelho.
- Sim, vermelho combina com a necessidade da hora, com a mudança sentida e ainda não concluída.
Penteou os cabelos, calçou as sandálias e saiu. O cheiro daquela manhã era diferente, as pessoas pareciam diferentes. Ela já não era mais a mesma, descobrira a ousadia do viver, gritava sua liberdade por todos os poros, as correntes pesadas ficaram caídas na memória.
O vento passava por entre seus cabelos e um sorriso de vitória, desenhou-se em seus lábios.

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Quem sou eu

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carioca, taróloga, historiadora em formação pelo Instituto Federal de Goiás, mãe, crocheteira de fios e palavras, ensaísta e poeta de gaveta.